domingo, 30 de dezembro de 2012

Ano Novo, sinal de esperança Por: Dom Eduardo Koaik

Um sinal de esperança resplandece para a humanidade ao festejar a entrada do novo ano. É o descortinar no horizonte da história, a proximidade de uma utopia realizável, anseio mais profundo do coração humano: a fraternidade, a justiça, a paz.

O que está por vir não pode ser chamado de destino ou fatalidade. Não é algo predeterminado, mas constrói-se na marcha inexorável do tempo. Não é o destino do homem que é inexorável, mas o tempo. Dentro dele, livremente, vamos ao encontro da felicidade. Ser livre não é, simplesmente, não depender de alguma coisa ou de alguém. Ser livre é depender de quem se ama. Ser livre não é, simplesmente, amar. É amar o bem. E o bem é Deus e tudo o que conduz a Deus conduz à felicidade.

O começo de um novo ano faz-nos apalpar a passagem do tempo em nossa vida. O que passa: o tempo ou a vida? O tempo acaba, nossa vida sofre o tempo e vai além dele. Por isso o apóstolo Paulo nos recomenda: "Sabei tirar proveito do tempo presente". (Cl 4,5) 
O que é o tempo? E tudo que flui do "antes" para o "depois", como ensina a filosofia. O "agora" é que se interpõe aos dois. Nos dias da criação, Deus não pronunciou "faça-se o tempo", mas disse "faça-se a luz". (Gn l, 3) Quando se lê no livro do Gênesis: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn l, 1), então aí começou o tempo. Deus, que é eterno, não tem princípio, nem fim. Conforme descreve o Evangelho, ele é o princípio, anterior ao tempo: "No princípio era o verbo, e o verbo era Deus". (Jo 1. 1) Deus é o princípio, enquanto fonte da criação. Deus também é o fim, enquanto toda a criação converge para Ele.

Na sucessão de minutos e horas, de dias e meses, não se sente tanto a passagem do tempo quanto na zero hora de todo primeiro de janeiro. A passagem do ano, sim, é sentida e festejada como o momento de alegria com sabor de vitória, sensação de que se alcançou o fim de uma escalada e começo de nova etapa da vida.

Frente ao Deus da vida, cada ano que finda provoca-nos a responder à pergunta de modo bastante pessoal: minha vida cresceu, amadureceu e produziu frutos? Não é a quantidade de realizações que conta, mas o amor que as fecundou. Ações marcadas por má vontade, revolta, egoísmo, exploração do outro podem, aparentemente, somar êxitos, de acordo com critérios de sucesso numa sociedade competitiva. 

No julgamento de Deus, lembra-nos o apóstolo Paulo o único critério válido: "Ainda que eu fale a língua dos anjos e dos homens, se não tiver amor sou como um bronze que soa, perdendo-se no ar. Ainda que eu tenha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens aos famintos, sem amor, nada me adianta", (cf. l Cor 13)

Ao término de 2004, o primeiro sentimento a aflorar do coração é o de gratidão pelo tempo que Deus nos tem concedido para fazer o bem. Viver na mediocridade é reduzir a medida do dom de Deus. Frustrados na vida são os que perseguem ambições além da medida.
Deus não põe medidas em nossa capacidade de amar porque o seu Filho mandou-nos amar como Ele amou, sem medida, "até o fim". (Jo 13,1) Para isso, importante é não viver dividido no amor, tentando a veleidade de servir a dois senhores.

Menos fácil do que se pensa é o desafio de outra pergunta: como será 2005? Há os perscrutadores da astrologia, cartas, numerologia, adivinhações, dos búzios que se fazem leitores profissionais do que não existe: o futuro. O passado não influi, necessariamente, no nosso futuro, sobretudo quando o presente já o transformou. Nosso presente pode ajudar-nos a construir nosso amanhã. Acima de tudo, nosso livre arbítrio, nossa capacidade de escolha é que nos conduz. 

Não é a luz, não são as marés, nem o despacho na encruzilhada, nem a leitura da palma da mão, nem os amuletos, nem as simpatias, nem as três batidas na madeira, nem o levantar-se com o pé direito, nem azares e sortes que nos fazem felizes ou infelizes. Quando Deus nos chama à vida e a desempenhar nossa missão no mundo, basta-nos sua palavra de encorajamento: "Não tenham medo, Eu estou com vocês".

Ano novo começa como a página em branco de um livro. A primeira frase que nela desejamos escrever é a mensagem anunciada pêlos anjos de Belém na noite de Natal: "Glória a Deus e paz na terra".

Primeiro de janeiro é denso e rico de esperanças. Na entrada do ano novo, saudemo-nos com as mesmas palavras postas por Deus na boca dos filhos de Israel: "O Senhor te abençoe e te guarde. Deus volte para ti sua face e te dê a paz". (Num 6, 23-26) Estejamos, pois, revestidos da armadura cristã: o capacete da fé, a espada da esperança e o escudo da caridade. Feliz Ano Novo!


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